quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

LER PARA VER O MUNDO





A criança deve fazer a sua investigação do mundo. Para que isso aconteça, alfabetizá-la é fundamental. Acontece, a partir daí, uma relação "misteriosa" entre o professor e aluno, permeadas de descobertas e apropriações para ambos. Ocorrem transferência e contratransferência. Estes conceitos formulados por Freud e alguns teóricos foram abordados na interdisciplina de Psicologia e provocaram uma ampla discussão em torno desta temática. Transferência é o deslocamento do conjunto de sentimentos positivos ou negativos, atribuídos a pessoas do passado para o presente e tem como autor o inconsciente. Portanto, a essência deste comportamento é a repetição de padrões. A contratransferência, por sua vez, é o conjunto das reações inconscientes, é a resposta emocional aos estímulos apresentados ou recebidos. Freud foi o primeiro a identificar e descrever o fenômeno da contratransferência. Em nosso cotidiano escolar percebemos que a sala de aula é um lugar transferencial onde o aluno apresenta ao  professor suas relações de conflito e afeto, ou seja, transfere e contratransfere suas experiências positivas ou negativas.
 Este processo não natural, que é a alfabetização, depende da interação do ser que aprende com o professor que media. Portanto, questões como afetividade interferem positiva ou negativamente na aprendizagem da leitura e escrita. Dependerá, também, de como o professor reagirá aos deslocamentos de sentimentos realizados pelo aluno em sala de aula.
Ler e escrever é um ato civilizatório, e deve-se introduzir a criança à este universo com recursos, ambientes e disposição de quem sabe por onde conduzir. A alfabetização, como conhecimento motor, precisa de treino para ficar automatizada, porque é próprio da natureza da criança mover-se. Os jogos são fundamentais neste período. Cito como exemplo para esta fase, a brincadeira "Sapata das sílabas". Esta brincadeira muito apreciada pelas crianças, consiste em colocar no chão cartelas com sílabas no lugar dos números, e após dizer a palavra ou mostrar a figura, e a criança pulará ordenadamente nas sílabas que formam a palavra ou o nome do desenho. É um jogo que envolve as estruturas motoras, raciocínio e atenção. Mas, é importante também haver momentos de quietude, para a organização das idéias e a sua relação em outras situações. Portanto, movimento e quietude devem ser dosados neste período de intensa aprendizagem.
Em alguns casos, alfabetizá-la tornou-se um desafio, pois os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGDs) e muitas vezes o despreparo dos professores esbarram, impedindo que a alfabetização aconteça no período da primeira infância.
Um número cada vez maior de alunos não alfabetizados avançam para os anos escolares seguintes, levando as estruturas governamentais a implantar programas de capacitação (Pacto pela Alfabetização na Idade Certa)  que contemplem a fragilidade do aprender e apreender das atuais infâncias.
E entre a fragilidade do aprender e do ensinar está o aluno, ansioso e curioso por realizar as suas leituras nas revistas coloridas, nos livros didáticos, o conhecimento letrado e o mundo que o cerca.