A criança deve fazer a sua investigação do mundo. Para
que isso aconteça, alfabetizá-la é fundamental. Acontece, a partir daí, uma
relação "misteriosa" entre o professor e aluno, permeadas de
descobertas e apropriações para ambos. Ocorrem transferência e
contratransferência. Estes conceitos formulados por Freud e alguns teóricos
foram abordados na interdisciplina de Psicologia e provocaram uma ampla
discussão em torno desta temática. Transferência é o deslocamento do conjunto
de sentimentos positivos ou negativos, atribuídos a pessoas do passado para o
presente e tem como autor o inconsciente. Portanto, a essência deste
comportamento é a repetição de padrões. A contratransferência, por sua vez, é o
conjunto das reações inconscientes, é a resposta emocional aos estímulos
apresentados ou recebidos. Freud foi o primeiro a identificar e descrever o
fenômeno da contratransferência. Em nosso cotidiano escolar percebemos que a sala
de aula é um lugar transferencial onde o aluno apresenta ao professor
suas relações de conflito e afeto, ou seja, transfere e contratransfere suas
experiências positivas ou negativas.
Este processo não natural, que é a
alfabetização, depende da interação do ser que aprende com o professor que media.
Portanto, questões como afetividade interferem positiva ou negativamente na
aprendizagem da leitura e escrita. Dependerá, também, de como o professor
reagirá aos deslocamentos de sentimentos realizados pelo aluno em sala de aula.
Ler e escrever é um ato civilizatório, e deve-se
introduzir a criança à este universo com recursos, ambientes e disposição de
quem sabe por onde conduzir. A
alfabetização, como conhecimento motor, precisa de treino para ficar
automatizada, porque é próprio da natureza da criança mover-se. Os jogos são
fundamentais neste período. Cito como exemplo para esta fase, a brincadeira
"Sapata das sílabas". Esta brincadeira muito apreciada pelas
crianças, consiste em colocar no chão cartelas com sílabas no lugar dos
números, e após dizer a palavra ou mostrar a figura, e a criança pulará
ordenadamente nas sílabas que formam a palavra ou o nome do desenho. É um jogo
que envolve as estruturas motoras, raciocínio e atenção. Mas, é importante
também haver momentos de quietude, para a organização das idéias e a sua
relação em outras situações. Portanto, movimento e quietude devem ser dosados
neste período de intensa aprendizagem.
Em alguns casos, alfabetizá-la tornou-se um desafio,
pois os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGDs) e muitas vezes o
despreparo dos professores esbarram, impedindo que a alfabetização aconteça no
período da primeira infância.
Um número cada vez maior de alunos não alfabetizados
avançam para os anos escolares seguintes, levando as estruturas governamentais
a implantar programas de capacitação (Pacto pela Alfabetização na Idade Certa)
que contemplem a fragilidade do aprender e apreender das atuais
infâncias.
E entre a fragilidade do aprender e do ensinar está o
aluno, ansioso e curioso por realizar as suas leituras nas revistas coloridas,
nos livros didáticos, o conhecimento letrado e o mundo que o cerca.