segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A pluralidade da identidade




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A pluralidade da nossa identidade

Aprender a viver, é um dos maiores desafios da Humanidade. 

         Seja na família, na escola, no trabalho, ou no ambiente social, temos que aprender a conviver e a respeitar as diferenças e os diferentes. A vida é assim, cada um é diferente do outro e tem sua maneira de entender, enfrentar e realizar a vida, de orquestrá-la.
         Afinal, são as diferenças que movem o mundo e impulsionam o progresso. No Brasil, existe uma enorme miscigenação de raças, culturas e religiões. Apesar disso, frequentemente acontecem atos incompreensíveis de algumas pessoas em relação aos negros, homossexuais, aos portadores de necessidades especiais, entre outros.
O preconceito sempre existiu, como na época em que os negros não podiam misturar-se com os brancos, assim como os analfabetos e as mulheres não podiam votar.
         Em minha adolescência senti os efeitos de quem não tinha permissão de frequentar o clube que pessoas brancas tinham livre acesso. Tínhamos “nosso clube” e nos divertíamos muito. Mas lá havia uma diferença, as pessoas de outras raças podiam entrar e participar sem o desconforto do convite a retirar-se. Partilhei com a turma do 5° ano algumas experiências de preconceito e os incentivei a realizar relatos vivenciados ou que tenham presenciado. Foi um momento intenso de partilha e após passei um vídeo onde era evidente a situação de racismo. Como culminância, os motivei construir frases com a seguinte temática: “ Atitudes transformadoras” em vários ambientes como: escola, família, em casa e com os amigos. Desta proposta surgiram ótimas reflexões e um projeto que resultou em uma contação de histórias, oficina de criação ( desenho, recorte e pintura) e brincadeiras dirigidas para os alunos do turno integral. Tudo foi elaborado e organizado por meus alunos. Foi fantástico! 
         Todo e qualquer indivíduo tem seu jeito e suas particularidades. Dessa forma, todos devem respeitar o estilo de vida de cada um. Deve existir a compreensão da liberdade de expressão, desde que haja sempre o respeito. A partir disso será construída uma sociedade mais justa e igualitária, sem ofensas e rivalidades.
Aprender a viver com os outros, na escola, no lar, no trabalho, no clube ou em qualquer outro ambiente, é, talvez, um dos desafios mais intrigantes e instigantes deste século. Conviver, aceitar e respeitar as diferenças e os diferentes tem sido um desafio presente em todo ambiente social.
         O desenvolvimento da compreensão do outro e a percepção das interdependências no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz são desafios diários. “ Poderemos conceber uma educação capaz de evitar os conflitos ou de resolvê-los de maneira pacífica, desenvolvendo o conhecimento dos outros, das suas culturas, da sua espiritualidade?” – é a proposta lançada pela Unesco, em seu congresso de 1998, realizado em Paris, quando foi aprovado o Relatório Delors.
         Penso que o diálogo é o meio mais adequado para o desenvolvimento dessa competência – aprender a viver juntos. O diálogo, onde discordar não significa gostar menos ou desrespeito ao ponto de vista ou posições do outro. Onde aceitar e conviver com as diferenças e os diferentes não significa concordar, mas acolher.

A “descoberta progressiva do outro” e a participação em projetos comuns é um dos caminhos apontados pelo Relatório Delors, que precisamos adotar em nossos processos de aprendizagem.







Referências:
Link: doc.unesco.org/images/0010/001095/109590por.pdf
Link:https://www.youtube.com/watch?time_continue=7&v=IQF8mVF3j84(Antunes, Celso - Os quatro pilares da educação)
Link: https://www.youtube.com/watch?v=ykTVjILFy-I ( Alves, Rubem _ Aprender a ser)
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segunda-feira, 6 de novembro de 2017

O valor da "carne"

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Uma alma não tem cor, tem sonhos...


PROCURA – SE EMPREGO…
ENCONTRA – SE PRECONCEITO!
Imortalizada na voz da expressiva cantora Elza Soares,  a música “ A carne”, traz em seu enredo algo que alterna-se entre o velado e escrachado. O enredo desta música retira dos porões da história, quem fez e ainda contribui com braço fortecom o nosso país. Verdade nua e crua, que as vezes é jogada para baixo do tapete, numa tentativa de transparecer que tudo vai bem , que tudo está certo. E talvez esteja certo para alguns...mas errado para outros.
As vezes driblamos o encontro com o preconceito, e em outros momentos vamos ao encontro dele. Foi o que aconteceu comigo.
Quem sou eu?
Me chamo Isabel Cristina de Oliveira, brasileira, professora, 54 anos  e negra.
Trago marcas do preconceito vivido desde a minha infância ,pois nasci em uma cidade de colonização germânica em que  “todos eram considerados iguais, mas uns eram mais iguais que os outros”. Mas o relato que quero partilhar, se deu a aproximadamente há 20 anos atrás, quando decidi retomar minha vida profissional.
Com o recorte em mãos de um anúncio dos classificados, fui até uma escola de educação infantil em um bairro central da nossa cidade que anunciava abertura de seleção para trabalhar com uma turma. A prestação de serviço era de professora, mas na época contratavam como atendente de creche ou recreacionista.
Chegando ao endereço, com o currículo em mãos e sem descuidar da apresentação pessoal, identifiquei–me e aguardei a chegada da diretora da escola.  Após um tempo de espera, a diretora chegou, nos cumprimentamos e ela perguntou o motivo da minha visita à escola. Respondi, que conforme o anuncio do jornal (ZH) queria participar da seleção e deixar meu currículo para análise.
Para minha surpresa, a diretora perguntou se era para a vaga da limpeza. Com calma respondi com o seguinte questionamento:
-Foi para a contratação da higienização (limpeza) que anunciaste no jornal ( ZH )? 
Ela respondeu negativamente e acrescentou:
- Podes deixar comigo teu currículo.
Olhei profundamente em seus olhos e respondi:
- Obrigada, mas não quero deixar meu currículo aqui.
A carne mais barata no mercado é a carne negra. Mais barata porque as vezes querem restringir o mercado de trabalho as funções onde o salário é menor. A desigualdade social e racial foi retirada dos porões dos navios negreiros e as senzalas receberam outros contornos. Atualmente os feitores estão bem trajados e já não trazem mais chicotes em suas mãos. Eles se colocam como usurpadores de sonhos tentando pôr mordaças à ascensão social, e a toda e qualquer reparação por meio de ações afirmativas.  
Subjugar uma raça, restringí-la há algumas funções é um desrespeito à identidade racial, é sempre uma tentativa de torná-la mais barata para o mercado de trabalho, onde são menores as possibilidades, maior é o preconceito e menor é a dignidade.
Trabalhei a temática do preconceito com minha turma do 5° ano e foi um momento de intensos relatos  e posicionamentos assertivos. Fiz uma " roda de Conversas cruzadas" e após solicitei o registro escrito e gráfico. Os alunos responderam positivamente aos estímulos e ficaram motivados à participação do Momento Cultural na escola. Faremos um "explosão de ideias por meio de dramatização da chegada dos negros ao Brasil, usaremos músicas que envolvam este tema e também proporcionaremos uma rodada de "Conversas cruzadas" sobre o assunto.